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A violência no Futebol

A violência no Futebol

Proibir as torcidas organizadas ajuda a banir a violência nos estádios?

SIM

 

*Por Fernando Capez

 

 

O esporte assume na mente humana, um caráter cada vez maior de idealização. Pessoas de todas as idades e camadas sociais, fortemente influenciadas pelos meios de divulgação, almejam alcançar a realização plena no mundo esportivo, visando sobretudo projeção social e realização profissional.

No Brasil, o esporte coletivo, mais precisamente o futebol, atua como canalizador de emoções, no qual o indivíduo projeta seus anseios reprimidos. Opera-se uma transferência emocional e psíquica, de modo que o indivíduo participa do acontecimento esportivo como se fosse seu real protagonista. A derrota da equipe simpatizada provoca no torcedor uma sensação de desânimo e contrariedade, como se estivesse experimentando pessoalmente o insucesso.

Dentro deste cenário altamente passional, surgem as torcidas organizadas. Conscientes de que sozinhos, os indivíduos não conseguiriam despertar da sociedade, a atenção necessária, e desejosos em se transformar nos protagonistas principais do espetáculo, buscam no agrupamento a força que não teriam isoladamente.

Como sociedades políticas em tamanho miniatura, e convivendo em um ambiente altamente passional, estas organizações acabam, em muitos casos, transformando-se em canais de extravasamento de frustrações e, principalmente, de violência.

Constituídas sob o signo de entidades associativas, com regras de ingresso e permanência consubstanciadas em estatutos, aglutinaram em torno de si torcedores que vislumbravam inicialmente, apenas figurar como protagonistas do espetáculo.

Contudo, o recrudescimento dos problemas sociais e econômicos, o considerável aumento da distância entre os segmentos sociais, o alastramento generalizado da miséria, a falta de emprego e de acesso a um sistema de educação e saúde minimamente adequadas, entre tantos outros problemas, acabaram criando perigosos focos de tensão social.

Sentindo-se massacrados pela estrutura altamente seletiva da sociedade, as pessoas passaram a procurar os agrupamentos com novas motivações.

A violência recebida e presenciada no dia a dia tende a ser eliminada mediante atos exteriores. A sensação de impotência em lidar com o superego faz com que o indivíduo procure experimentar uma sensação de poder que lhe compense as frustrações do cotidiano. O desejo de integrar um grupo temido satisfaz as exigências de auto-afirmação, ao mesmo tempo em que envaidece tornar-se o centro das atenções da mídia, chamando para si o foco principal do espetáculo. Sempre que possível, a prática da violência acaba sendo um meio do indivíduo “roubar a cena do artista” e chamar para si a atenção que não lhe emprestavam.

O perfil do torcedor violento é o de uma pessoa que se orgulha desta condição. Não se choca com a brutalidade. Vive em clima de banalização, junto com outras pessoas que cultivam estes valores.

Todavia, é preciso evitar esse maniqueísmo de que a torcida organizada é boa ou ruim. Nas torcidas organizada existem coisas que são positivas, principalmente aquelas focadas no espetáculo esportivo em si, incentivando e procurando levar seus times do coração à vitória, como ocorria nos anos 70, quando o amor pelo esporte superava as diferenças. Porém, muitas dessas torcidas foram perdendo o controle ao longo do tempo, até que, nos anos 90 partiram para a violência, atingindo um estágio extremamente perigoso, ou seja, compostas por pessoas usuárias de drogas e portando armas. Chegaram ao ponto de recrutarem torcedores com antecedentes criminais para enfrentarem a torcida adversária. Esse é um lado ruim das torcidas organizadas, que estão levando para os estádios seus rancores, fracassos e frustrações pessoais, esquecendo o principal objetivo do esporte que é a união de todos para um fim comum. Problemas sociais e econômicos geram perigosos focos de tensão social nas torcidas

Julgo ser importante a implementação de algumas medidas como o monitoramento das torcidas, cadastrando todos os seus membros para que não haja impunidade. É imprescindível a realização de ações conjuntas entre as polícias e o Ministério Público. Desde de 2005, aconteceram muitas mudanças tanto na legislação quanto no trabalho entre as polícias e Ministério Público. Vale ressaltar que a impunidade decorre da ausência de medidas de caráter preventivo. Assim, é importante a instalação de uma delegacia ou de uma divisão especializada para fazer o monitoramento permanente das redes sociais para verificar o que as torcidas estão organizando, para saberem com antecedência o que elas estão combinando. É preciso, também, que todos os envolvidos na prevenção desses atos se convençam da necessidade de realizarem de um trabalho de inteligência. Mais um item que julgo ser importante é a infiltração de policiais especializados nas torcidas. As Polícias Civil e Militar têm plenas condições de fazer esse trabalho. Acredito que seja possível a instalação de Juizados Especiais nos estádios para que os representantes do Poder Judiciários trabalhem em conjunto com as polícias. Outra medida que deve ser tomada é a venda de ingressos numerados e a realização de fiscalização para que o torcedor se sente no lugar marcado no seu ingresso, evitando a aglomeração de torcedores de um mesmo time, promovendo, assim, a integração entre os indivíduos, levando-os a uma coexistência menos tumultuada.

Há muito que os estádios deixaram de ser um local de lazer familiar. Os pais de família já não comparecem aos jogos, temendo por sua integridade física e, muito menos, levam seus filhos. Os estádios de futebol, que antes eram um local de diversão sadia, que mostrava o verdadeiro espírito do esporte, tornaram-se verdadeiras arenas de guerra. Quem perde com isso são os próprios clubes, os torcedores e o esporte em geral.

Fernando Capez é Procurador de Justiça licenciado e Deputado Estadual. Presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (2007-2010). Mestre em Direito pela USP e Doutor pela PUC/SP. Professor da Escola Superior do Ministério Público e de Cursos Preparatórios para Carreiras Jurídicas. Autor de obras jurídicas. www.fernandocapez.com.br / fcapez@terra.com.br  / www.facebook.com/Fernandocapezoficial / twitter.com/fernandocapez

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